sábado, 17 de dezembro de 2011

Vem aos meu sonhos, vê os labirintos por onde me perco
























Vem aos meus sonhos,
faz em mim a tua casa.

Planta, em frente,
a cerejeira dos pássaros brancos,
deixa que eles pousem nos ramos
e cantem eternamente,
deixa que nas suas asas de luz eu leia o meu nome,
antes de os relâmpagos acenderem os prados.

Vem aos meu sonhos,
vê os labirintos por onde me perco,
vê os meus países do mar,
vê, em cada barco que parte do meu coração,
as viagens que não fiz, os amores que não tive,
a lua cruel da minha solidão.

Vem aos meus sonhos,
traz um fio de água para as dálias
do meu quarto vazio,
não queiras que as suas pétalas
sequem muito depressa,
caindo pelos delicados muros de cristal,
apagando a cor que dava vida
aos aposentos do solitário.

Deixa que ele evoque a secreta
doçura das colmeias,
e vem,
vem aos meus sonhos,
ilumina o meu domingo de cinzas,
o meu domingo de ramos, o meu calvário,

diz que estás aqui,
nesta página que escrevo para nunca te esquecer.



José Agostinho Baptista